17 de novembro de 2016

Ushuaia - 20º dia - Tolhuin

20º dia – Tolhuin
17/11/2016
485 km (9.240 km)

Agora sim, partiu Ushuaia, fim do mundo!
Os 472 km para o extremo da nossa viagem seriam facilmente cumpridos! Daria até para ficar 2 dias em Ushuaia, ou incluir algum ponto de visita na volta, ainda dentro do prazo para o percurso de volta (sair dia 20 obrigatoriamente de Ushuaia).

Estava bem frio, nenhuma novidade. Deixamos o máximo de bagagem no hotel e seguimos para Ushuaia somente com o necessário para 2 dias, eu fui somente com o baú traseiro, barraca e galão de combustível. O Ednei me questionou se eu não levaria uma capa de chuva, pois a região de Ushuaia podia ser chuvosa. Chuvosa? Como não tínhamos tomado nenhuma gota de chuva até hoje, não achei importante se alguma chuvinha nos atingisse, não levei a capa.

Seguimos pela Ruta 3, tranquilamente até a divisa com o Chile, paisagem patagônica única em todo o caminho, deserto, plantas de deserto e guanacos, nenhum local muito diferente. No Paso de Integración Austral os tramites foram tranquilos, rápidos, sem greve.

No Chile mudou somente o pavimento, que passou de asfalto para concreto, em toda a Ruta 255 e 257 a paisagem foi a mesma. Chegamos sem problemas à Punta Delgada para fazer a travessia do Estreito de Magalhães.

Muito frio na fila do barco da Austral Broom, mas já era o que esperávamos, afinal, estamos seguindo para o extremo sul, para a latitude 54º, a última onde se pode chegar via terrestre no planeta!


Fila do barco
O valor do barco foi de 4.500 pesos chilenos (cerca de 25 reais), que podem ser pagos também com pesos argentinos ou dólar (pagamos com pesos argentinos); a travessia durou cerca de 20 minutos para percorrer os 4.650 m de canal, uma viagem muito emocionante, passar por um lugar que já tínhamos visto muitas fotos e vídeos por anos, e a visão é espetacular!

Meninas embarcadas, navegando!


Desembarcamos, e a paisagem se tornou mais plana, com mais plantas rasteiras de deserto. A estrada de concreto, sempre impecável!

Paisagem chilena...
Antes de Cerro Sombrero, uma dúvida sobre qual estrada seguir: chegamos em uma bifurcação confusa, neste ponto parecia que a 257 seguia reto por rípio, e alguma outra nascia à esquerda de concreto. Ficamos tendenciosos a continuar seguindo por rípio, pois estudamos nos planejamentos sempre seguir por ela; mas era ilógico no momento, pois todos os carros seguiam pelo asfalto. Quando vi 2 ônibus seguindo pelo asfalto, a lógica foi seguir por ali, por dois motivos: eles deviam estar seguindo para Rio Grande e Ushuaia, e só fariam isso pelo melhor caminho possível, então a lógica era segui-los.

Mas como "o seguro morreu de velho", paramos em um kiosko de estrada, tipo um bar-trailer para perguntar e sanar definitivamente a dúvida, uma moça bem jovem nos atendeu na porta, sem deixar a gente entrar, ela falava rápido demais, e nos disse (acho que disse) para seguirmos pelo caminho dos ônibus. Aproveitamos para pedir um café, mas ela disse que só servia chá... puts, um lugar no meio do deserto, que só serve chá? Vai entender... talvez não quisesse trabalhar hoje!

Paramos em Cerro Sombrero para abastecer no único posto da cidade, que com uma placa de fechado, mas havia um senhor dentro de um cubículo, e perguntamos se não poderia nos abastecer, ele somente apontou para a placa dos horários e fez uma cara feia. Estava muito frio lá fora e devia estar muito quente lá dentro do cubículo... talvez explique a cara feia! Mas, pelos cálculos, daria para chegar em Rio Grande com a gasolina do tanque.

Tiozinho amoitado, fora do horário de abastecimento.
Seguimos pelo asfalto e descobrimos que a Ruta 257 é o caminho pavimentado, lá naquela bifurcação lá atrás ela vira 90 graus à leste (a que segue reto é a Y-79, de rípio).


A 257 tem ótimo pavimento, e parte dela está em obras, nesses pontos o caminho e por vias laterais de rípio, de boa manutenção, mas com muito movimento de ônibus, viajantes e caminhões das obras.

O sistema de construção da estrada é espetacular, uma única máquina distribui toda a faixa de concreto sobre a terraplenagem, em seguida ela faz o alisamento da superfície e fica tudo pronto. É guiada por pequenas balizas que orientam o alinhamento correto do conjunto. A espessura do concreto é de 22 cm, praticamente um exagero quando comparado com as estradas de asfalto aqui do Brasil (ou será que o nosso pavimento é mesmo mal feito, superfaturado, etc?).

Pavimento de concreto chileno.
20 cm de concreto!
Tren Pavimentador chileno (foto da internet).


Nosso país, nosso governo, nossas empreiteiras, tem que aprender muito ainda!

Pelo caminho o que não faltava eram os cordeiros, grandes áreas de pastos e criações sem cerca, muitas vezes pequenas manadas cruzavam as estradas.

Cordeiro Patagônico... saudade de El Calafate, onde eles vinham assados!
Cordeiro Patagônico irrigado!

Pouco antes do Paso San Sebastian paramos para comer um bolo e tomar um chá, pois já eram 14:00 e uma leve fome sempre bate. Restaurante de estrada, de turista, mas com opções em conta.


Bolo com chá para aquecer o corpo.
No Paso San Sebastian, a aduana e imigração feitas sem crise, sem greve (acho que acabou).


KLR 650 - carburada. Linda moto!

Na aduana argentina também foi tudo tranquilo e rápido.


O rípio começa na 257 após a aduana chilena, passando pela divisa com a Argentina (pela Ruta 1) e seguindo assim até encontrar a Ruta 3 (onde começa o asfalto), o trecho é muito bom, permitindo pilotar entre 60 e 90 km/h, tendo cuidado com os rebanhos de carneiros.

Ruta 3, com pavimento bom, de asfalto, com poucas partes com defeitos, basta prestar atenção que não há risco. Como sempre, os carros argentinos andando a milhão, alguns nos ultrapassavam muito rápido mesmo a gente estando a 120 km/h, isso sim é perigoso e merece um cuidado maior com o monitoramento constante dos retrovisores.

Em Rio Grande, paramos para abastecer e encontramos os 2 amigos argentinos, que encontramos anteriormente lá em Gobernador Gregores, um bate papo com café na loja de conveniência e eles seguiram na frente para Ushuaia, nós seguimos minutos depois.

No caminho após Rio Grande, o frio chegou, com vento e o pior que podia acontecer: chuva! O Ednei parou e colocou a capa, e eu? Não quis trazê-la. A temperatura foi caindo, chegou a 8 graus, a água começou a entrar na bota e depois de meia hora penetrou na jaqueta e calça. Comecei a lembrar do frio nos pés de El Chaltén e das dores nos dedos (com luva fraca) em El Calafate, acho que tô traumatizado com frio (dava saudade do Jalapão!).

Com a chuva, a pilotagem ficou em velocidade baixa, a viagem não rendeu, o tempo fechou, escureceu, choveu mais, esfriou mais, quando passamos em Tolhuin.

Faltando somente 100 km para Ushuaia, e com tempo disponível, eu não suportava mais o frio com o corpo molhado, não aguentaria mais uma hora pilotando assim, então abastecemos e resolvermos procurar um lugar para dormir por ali e tentar secar as roupas.

Tolhuin é uma cidade turística, vimos muitas pousadas, mas todas fechadas (devido não ser temporada), a muito custo encontramos o Restaurante Don Carlos (também fechado), onde o dono alugava quartos tipo cabañas, não havia opção, ali ficamos. Utilizamos todos os pontos do quarto onde era possível pendurar roupas para tentar secá-las, até os quadros das paredes retiramos para aproveitar os pregos. Em cabañas não oferecem toalhas, me enxuguei com uma fronha.

Da esquerda para a direita: cabañas, novo restaurante (em construção), restaurante atual.


Como sempre usamos as jaquetas de pilotagem como blusa de frio, não dava para usar a molhada para sair à caça de um lugar para jantar; acabei indo só com a blusa e calça de motocross em um friozinho maneiro de 7 graus.

Na cidade, tudo fechado, mas encontramos o Me Matan, Limón, um pub restaurante rock´n roll temático, que homenageia ninguém mais que... Pablo Escobar! Cardápio e decoração toda sobre o narcotraficante!



O nome Me Matan, Limón é de uma música que também homenageia o senhor da droga colombiano.



Jantamos um frango a parmegiana com fritas, novamente tipo solado de Havaianas, mas a fome e a necessidade de repor a energia gasta para aquecer o corpo deixaram o sabor delicioso.

Bom, os planos de chegar hoje em Ushuaia foram interrompidos pelo frio e chuva. Mas faltam somente 100 km, amanhã almoçamos no fim do mundo!

Tolhuin é como todas as cidades da patagônia, dá para parar e visitar por 2 dias, pois sempre há atração. Particularmente, a cidade é famosa também por um incidente durante a gravação do programa Top Gear em 2014, onde a equipe usou um Porsche com placas H982 FKL, que facilmente pode ser traduzida para 1982 Falklands, ano da Guera das Malvinas e o nome inglês das Ihas Malvinas. Para os argentinos isso foi uma provocação. Depois de seguir pela patagônia a partir de Bariloche, e chegar em Ushuaia a equipe sofreu ameaças de veteranos militares e fugiu à noite para o norte, ao passar em Tolhuin foram apedrejados e tiveram que abandonar os carros e fugir em veículos da produção pelo meio do deserto até o Chile. Os carros do episódio se encontram até hoje na aduana de Rio Grande.





Dicas:

Gasolina: 13,75 AR (2,75 BRL)

Transbordadora Austral Broom:  http://www.tabsa.cl/portal/index.php/es/servicios/2-cruce-primera-angostura - Travessia de moto: 4.500 CL (25 BRL).

Restaurante Pub "Me Matan, Limón": Lucas Bridges 317 - Tolhuin. https://www.facebook.com/mematanlimontdf/

Infos sobre o Top Gear na Patagônia: https://en.wikipedia.org/wiki/Top_Gear:_Patagonia_Special - O episódio pode ser visto no Netflix.







Extra: Vídeo del "Tren Pavimentador":


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