Jalapão 2015 - 4º dia - Ponte Alta do Tocantins - Mateiros


4º dia - Ponte Alta do Tocantins - Mateiros (230 km)

Finalmente... chegou o dia do trecho mais conhecido do Jalapão: a rodovia TO-225, até Mateiros. São 160 km de estrada, mais os deslocamentos aos pontos turísticos (marquei bobeira e não conferi os km, deve ter dado uns 230). É época de estiagem, sem chuva há meses, e sem previsão, portanto a pior época para enfrentar os areiões pois eles estão totalmente secos, portanto mais macios, o que os deixa em uma condição mais difícil de enfrentar, mas não dá para ficar escolhendo estrada não, estamos aqui é para encarar... vombora!

Hoje, amanhã e depois, rodarei com o Cristiano, portanto serão 2 motocas na jornada. O Cristiano é guia local e conhece todos os atalhos do Jalapão.

Deixei maioria da bagagem na pousada, e levei somente o básico para 2 dias em uma pequena sacola, na verdade levei: 1 cueca, 1 par de meias, escova, creme dental, remédios, câmeras, carregadores, óleo de corrente e celular. O esquema é peso mínimo e lavar roupa na pousada, usando calça e blusa de pilotagem lavadas à noite para almoçar (aproveitando do calor de 30 e tantos graus à noite). Nas costas, o camelback (não vá sem água para este trecho).

Antes da saída, uma passada rápida no mercado para comprar o almoço. Cidade pequena, mercado pequeno. Optei em fazer um pão com presunto e queijo, fui ao fundo do supermercado procurar a área de frios... na hora, não achei, então perguntei para um funcionário que acabara de passar um pano de chão no piso e o estava torcendo dentro de um balde, a água escorria preta entre seus dedos (guardem essa informação).

Perguntei se tinha presunto e queijo, e ele me perguntou quanto eu queria. O rapaz soltou o pano dentro do balde, seguiu para uma pia, abriu uma torneira, deixou um pouco de água escorrer sobre as mãos, enxugou com um pano de pia, com o mesmo pano deu uma limpada na máquina de fatiar e foi para o outro lado do mercado.

Entenderam o lance da mão? Resumindo: caldo preto escorrendo entre os dedos, lavadinha básica, enxugadinha com o mesmo pano que limpou a máquina, ou seja, presunto e queijo viriam temperados!!

Enquanto o rapaz ia e voltava, pensei coisas diferentes; primeiro, só uma sujeirinha não ia fazer mal; depois, isso vai me dar uma diarréia no meio do jalapão! Quando o cara voltou com os dois tijolos de frios sobre os ombros... foi o fim: "Amigo, desculpa, acho que tá muito quente para levar isso, acho que vou levar umas frutas... obrigado".

Almoço comprado: biscoito, laranja e maçã. Quando falei para a moça do caixa que isso era meu almoço, ela ficou com cara de tanto dó, que só cobrou o biscoito!

Se os relatos não tiverem essas histórinhas... não tem graça!...rsrsrs.

Vombora rodar!

Os primeiros quilômetros são muito tranquilos e passamos direto pelo Cânion do Sussuapara (16 km), pois já visitei ontem. São pouco mais de 30 quilômetros de chão firme, que dá para andar em velocidade alta, apenas com alguns trechos com muita costela de vaca. Lembrando que deve-se murchar os pneus.

Aliás, é após aproximadamente 30 km que chega à entrada da Cachoeira do Lajeado. O acesso é à direita por cerca de 3,0 km de areião, mas veleu à pena. Aqui já tive que ir aprendendo a lidar com o areião.

Cachoeira do Lajeado

O GPS mostrava outro caminho para a volta, mas o guia garantiu que o caminho era pior, então voltamos pelo mesmo.

Um pouco à frente a estrada começa a mudar, é tudo com costela de vaca e pequenas manchas de areia começam a aparecer.

O próximo ponto seria a Cachoeira Brejo da Cama, um pouco à frente, mas resolvi deixar essa para a volta, visto que são cerca de 10 km, provavelmente de areião, e na volta daria tempo para visitar com folga, e não se correria o risco de chegar à noite em Mateiros. Pula essa... vombora.

Próximo destino: Cachoeira da Velha!
E começa o areião... tudo em subida! E começa o show!
Não sou muito bom de off, gosto... mas não sou bom...rss. Mesmo com o peso reduzido, a XT é uma moto pesada (mais o piloto de 100 kg), assim, mesmo entrando firme em 3a marcha, e acelerando... se o areião for muito longo a velocidade cai, tem que reduzir e aí é tudo de 2a e 1a marcha, acelerando.

Desde quando entrou no primeiro areião, a ventoinha acionou e não desligou mais. Calor de 38 graus, no mínimo.

Em alguns pontos da estrada é possível ver desvios dos areiões, feitos pelos carros ou trilheiros, em muitos pontos vale à pena desviar. Em um dos areiões preferi desviar pelo cerrado queimado (a vegetação era baixa e o caminho bem plano, sem tocos).

A entrada da Chachoeira da Velha é sinalizada, à esquerda da estrada. Caminho longo, com trechos variados, de estrada ruim, estrada boa, areião e pedras; mas dentro do padrão Jalapão, é "tranquilo". A estrada acaba em uma antiga fazenda que, segundo o guia, era do Pablo Escobar e agora é ponto de apoio para os guardas do parque.

Casa da antiga fazenda, daqui sai o caminho para Cachoeira da Velha


Na fazenda havia um casal, com uma caminhonete alugada, quebrada há 2 dias... sem apoio da locadora (cuidado ao alugar carros... vale à pena questionar à locadora antes quanto a estes problemas).

Dali sai o acesso que leva à cachoeira, estrada com areião de novo. A caminhada até o rio é feita por uma passarela... e realmente é uma das cachoeiras mais belas que já vi, volume muito grande de água, rio muito largo.

Passarela

Chegando na cachoeira.

Cachoeira da Velha

Cachoeira da Velha

Panorâmica (clique para ampliar).

A cachoeira se transforma em corredeira e termina em um rio largo, com correnteza forte e uma praia.

Corredeiras


Durante a apreciação e fotos chegou uma turma grande de trilheiros, tudo de Kawasaki 450. Imaginei que seria uma concessionária de Palmas que fornece passeios a grupos (li sobre, durante a pesquisa para a viagem), e era mesmo. Total de 13 motos e um triciclo, com apoio de duas caminhonetes com água e comida.

Olha os brinquedos!

Negona enturmando.

KX 450F


As Kawasaki KX 450F é para humilhar no Jalapão, são 450 cc para arrastar apenas 109 kg (peso/potência = 4,12) , contra os 181 kg da Negona (p/p = 3,6). Para se ter uma idéia, uma CG 150 pesa 114 kg.

Não dá para ficar comparando... a Negona é parceira e vai onde essas forem, mesmo que mais devagar chegamos até aqui e vamos mais longe!

Saindo da Cachoeira, tem-se o acesso para a parte de baixo do rio, onde as águas são mais tranquilas e forma-se uma grande praia, tem uma estrutura com banheiros ali. Como já eram cerca de 12:00h, ali fizemos o almoço. Água corrente, totalmente transparente e potável, aproveitei para encher o camelback, pois 2 litros já tinham se ido.

Praia

Bora nadar!

Praia

De volta à TO-225... o grupo de Kawasaki foi se espalhando e me ultrapassando a todo momento, as motos deles cruzavam os areiões a mais de 60 km, enquando eu... de 1a e 2a, com ventoinha ligada e 3 terrenos adquiridos hoje. Muito calor, coração acelerado, e muito suor para controlar a Negona.

Assulera!!


Enquanto isso, o Cristiano também me passava tranquilo com sua Sahara 350.

Cristiano, o companheiro do areião.

No meio do caminho, acabei me esquecendo do Mirante... e o guia também não falou nada, perdi essa! Fica à direita, saindo da rodovia. Então, próximo destino: Dunas do Jalapão.

Depois da Cachoeira da Velha tem um camping, há placas na estrada, é um possível ponto de parada ou pernoite, dependendo do roteiro do viajante.

Depois de rodar muito, após a entrada da Cachoeira da Velha que a gente chega na área do Parque Estadual do Jalapão, até agora a rodovia cortou fazendas particulares. A Cachoeira da Velha está dentro do parque, mas sua entrada não.

Aqui começa o Parque Estadual do Jalapão.

É incrível, mas é só aparecer uma subida, que aparecem juntos os areiões, então a dificuldade é agravada, e quando a gente acha que tá pegando o jeito... mais dois terrenos comprados. Em todos consegui levantar a moto sozinho, mas nos dois últimos já estava bem mais difícil devido o cansaço.

O cansaço não é tanto pelo esforço de pilotar, mas pelo calor excessivo, os 44 anos começaram a mostrar suas deficiências. Mas, vombora!

Não sei se esse truque existe entre os mais profissionais, mas aprendi um jeito da roda da frente da moto não tender a ficar subindo nos facões dos areiões: andar balançando a frente, virando o guidão rápido repetidamente para esquerda e direita, para mim funcionou.

Serra do Espírito Santo... quase nas dunas!


Chegamos na entrada das dunas, por volta das 16:00 h, o trecho de areião até lá é bem desafiador, areia branca, fina e com facões altos. No meio do caminho há um oásis, formado pelo rio que circunda as dunas.

Oásis no meio do caminho para as dunas.

Os últimos 300 metros para chegar em baixo das dunas é a pé.

Atravessa-se um riacho, o qual a duna vai empurrando pelo cerrado, mudando seu curso enquanto as areias se movimentam. As areias das dunas são movimentadas pelos ventos, que trazem a erosão da Serra do Espírito Santo. As imagens continuam a explicação.


Dunas com Morro do Espírito Santo ao fundo.

Relax total.

Pôr do sol.

O lugar é fantástico, ótimo para parar, sentar e ficar olhando por minutos, sem fazer mais nada. As fotos não conseguem representar o tamanho da paisagem.

Muito bom para estar ali durante o por do sol... mas não pude dar o luxo de ver o sol se por totalmente, pois faltava o trecho para chegar em Mateiros, que provavelmente já iriamos fazer no escuro.

Volta areião... e encaramos o trecho até mateiros enquanto anoitecia. A estrada não era boa, mas como estava escuro não tinha muito o que escolher de caminho, andei bem, mas não dava para enxergar o nível dos areiões, então fui tocando e a Negona foi passando direto. Dúvida... não sei se a estrada era melhor, ou se o fato de não enxergar a dificuldade desligou o alerta de tombos no cérebro.

Chegamos em Mateiros já a noite, e o destino foi direto para a Pousada Panela de Ferro. Usando o esquema de peso mínimo... tomei banho com a calça e camisa de motocross, e fui jantar com elas molhadas mesmo, na caminhada de 3 quarteirões até o restaurante já estavam secas pelo calor da noite.



Pousada Panela de Ferro

Jantar no local mais famoso de Mateiros, o Restaurante Dona Rosa, é uma cobertura com duas mesas compridas grandes, o que faz a gente acabar conhecendo todo mundo que está ali. Comida variada e muito saborosa. Além de ficar ouvindo as histórias da Dona Rosa que conhece tudo do Jalapão (tudo mesmo!).

Restaurante da Dona Rosa... simples e muito bom!


No restaurante conheci melhor o pessoal das Kawasaki, inclusive o dono da concessionária que explicou o esquema de grupos de passeio.

Bora, descansar... amanhã tem mais.

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DICAS:

Água - para se ter idéia... hoje foram mais de 6 litros de água consumidos no trecho. Não se pode deixar de levar. É possível reabastecer e beber nos rios, a água do Jalapão é potável.

Areiões: no sentido Ponte Alta - Mateiros, ficam todos em subidas, portanto mais difícil. Dependendo do roteiro do viajante, se fizer o sentido ao contrário, os areiões ficam em descida e extremamente mais fáceis de transpassar (mas para isso tem que entrar em Mateiros pela Bahia, não tem essa estrada no Guia 4 Rodas, mas tem no Google). Ou ainda é opção para quem fizer o trecho Novo Acordo - Mateiros antes.

Em Mateiros:
- Posto de gasolina: tem 2, gasolina a mais de R$ 4,00.
- Banco: não tem, dinheiro tem que ser sacado na agência dos Correios via bancos conveniados (Banco do Brasil).
- Tem mercado.
- O comércio em geral não curte cartões, tem que ser tudo no dinheiro (devido à dificuldade deles no acesso à bancos, é compreensível).

Pousada Panela de Ferro:
Ótimo padrão de apartamentos (com ar e frigobar), mas com preço mais alto. Há opções mais baratas na cidade.
www.paneladeferro-jalapao.com.br

Guia: Cristiano Tavares:
Conhece toda a região, acompanhou com sua moto, mas também atende quem estiver de carro.
https://www.facebook.com/cristiano.tavaresdesouza.1
(63) 8484-1923
Ponte Alta do Tocantins/TO


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